Recursos Hídricos

Palestra em Belém marca início dos debates para o Fórum Mundial da Água

A abertura oficial do “Rumo a Brasília/O Norte das Águas”, evento preparatório do encontro mundial, aconteceu na noite desta quinta-feira (09), no Teatro Mari Sylvia Nunes da Estação das Docas.

Belém é a primeira de seis cidades da América Latina a promover debates que subsidiarão a 8º edição do Fórum Mundial da Água, a realizar-se em 2018, no Distrito Federal. A abertura oficial do “Rumo a Brasília/O Norte das Águas”, evento preparatório do encontro mundial, na noite desta quinta-feira (09), foi marcada pela palestra do velejador, navegador e escritor Amyr Klink. A cerimônia no teatro Maria Sylvia Nunes, da Estação das Docas, contou com a presença do governador do Estado em exercício, Zequinha Marinho, do prefeito Zenaldo Coutinho e autoridades locais e nacionais.

Para Newton de Lima Azevedo, governador do Conselho Mundial da Água (CMA), a intenção do evento preparatório foi criar uma dinâmica que desse continuidade às discussões sobre a importância da água. "Diante desse cenário, pensamos que deveríamos tentar inovar um pouco. A ideia era preencher esse espaço entre os dois fóruns, em 2015 e 2018, e a melhor forma foi criar um projeto itinerante. E nada melhor do que começar por Belém, capital de um Estado que tem uma relação estreita com a água, base da subsistência e via de transporte para boa parte da população, entre outros fatores", explicou.

O governador em exercício destacou a questão da preservação e crescimento do Estado diante da potencialidade de recursos hídricos. "A questão ambiental sempre foi vista como uma forma de emperrar a economia, o que não é verdade. Desenvolvimento e meio ambiente precisamcaminhar de mãos dadas para que a vida possa ter condições de prosseguir na terra. Não adianta ter só boas leis no papel, elas precisam valer na prática e sob todos os aspectos", disse Zequinha Marinho. "Poder usar de forma inteligente e responsável esse recurso é fundamental. Temos água em abundância e precisamos cuidar desse bem. Se não tem água, não tem vida", complementou.

A cerimônia também contou com a presença do Ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho. Em seu discurso ele salientou os esforços entre as diversas esferas para garantir a gestão responsável da água. "Hoje o Brasil inicia de fato a preparação para o Fórum Mundial da Água. Nossa caminhada agrega a energia do Estado e da sociedade, somando esforços do poder público, setores produtivos, entidades corporativas, instituições acadêmicas e organizações não governamentais. Somente assim sermos capazes de garantir segurança hídrica no presente a para as futuras gerações ", declarou.

Conhecimento - Em sua apresentação, Amyr Klink falou sobre água e sustentabilidade, e contou suas experiências e percepções sobre a utilização dos recursos hídricos pelo mundo ao longo de mais de 30 anos velejando por entre mares e oceanos. Sobre a questão da Amazônia, ele destacou. "A Amazônia tem a maior bacia hidrográfica do planeta e não tem água potável e saneamento. Vivemos a cultura da fartura e isso não se reflete somente no uso da água, mas de outros recursos naturais como a floresta, os minérios, etc. E temos problemas, muitos deles criados justamente pela abundância de alguns recursos que não estão sendo bem administrados, é aí que entra o aspecto educacional", afirmou o palestrante.

Ainda segundo Amyr Klink, nesse contexto, os gestores das diversas esferas exerceriam um papel fundamental. "O Estado não tem competência técnica para resolver certos problemas e nem tem que ter. Ele deve ser o fomentador das soluções, da competência dos indivíduos. Mas nós podemos dar soluções simples. Exemplo prático disso: diminuir o consumo diário de água aumenta a qualidade do uso, resolve o aspecto do saneamento e cria uma qualidade de vida muito melhor", ressaltou Klink .

Amyr Klink também citou o papel da população nessa nova forma de pensar a utilização da água. "Em uma outra escala, quem também tem que colaborar com a solução é próprio cidadão, mas existe um aspecto cultural muito ruim. O brasileiro não pensa no todo e essa é uma dificuldade que temos por questões educacionais. Mas quando você consegue inverter esse processo é maravilhoso. Estamos começando a construir essa nova mentalidade com as novas gerações e nesse sentido o papel do Estado é muito importante, como fomentador de boas práticas", acrescentou o velejador.

A relação de Amyr Klink com a água começou em 1983, quando terminou a construção do seu primeiro barco: o I.A.T, que utilizou, em 1984, em sua primeira travessia  do Atlântico Sul, em uma jornada de 100 dias. A aventura foi descrita no best seller “Cem dias entre o céu e o mar”. Já em 1986 realizou a primeira de suas 15 viagens à Antártica, para em 1989 fazer a estreia como velejador em uma viagem que durou 642 dias. O feito rendeu a marca de 27 mil milhas de viagem e o livro “Entre dois pólos”.

Anos depois, a bordo do Paratii, iniciou o Projeto Antártica 360 Graus, em que faz a circunavegação polar pela rota mais difícil, em 88 dias, e lançou mais um livro, “Mar sem fim”. Também foi responsável pela construção de um moderno veleiro, com o qual fez, entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004, a circunavegação polar, em uma aventura que durou 76 dias sem escalas. Seu mais recente livro foi “Linha D’Água – Entre estaleiros e homens do mar”. Klink também foi responsável pela fundação do Museu do Mar, em São Francisco do Sul, Santa Catarina.

Programação - Entre as atividades que serão desenvolvidas na capital paraense até o próximo domingo (12) estão oficinas de capacitação na área de comunicação, como jornalismo, cinema e fotografia. A gastronomia também tem destaque. Na última quarta-feira (08), trinta alunos de cinco escolas públicas estaduais participaram de uma oficina gastronômica com o chef de cozinha Thiago Castanho que teve como tema “Os rios de nosso corpo”. A intenção foi despertar, por meio da execução de receitas, a reflexão sobre a importância das mudanças de comportamento para preservação da água.

A programação também inclui debates interativos com pesquisadores, representantes governamentais e da sociedade civil, concurso de redação entre alunos da rede municipal e estadual, produção de vídeos de bolso com a temática água e uma regata na Baía do Guajará, finalizando com um grande show com artistas da terra. As atividades são gratuitas e abertas à participação do público em geral.

Quem foi ao lançamento também pode conferir o resultado da expedição fotográfica que percorreu, no mês de maio, os rios Xingu, Negro e Solimões. Um grupo de cinco jovens, liderado pelo fotógrafo americano Tyrone Tuner, da revista National Geographic, aprendeu técnicas, conheceu comunidades em Belém, Altamira e Manaus e registrou a relação de cada uma delas com os recursos hídricos. O material ficará em exposição até domingo (12), no Boulevard das Feiras, no Armazém 3 da Estação das Docas.

Ainda este ano, a programação "O Norte das Águas” será realizada em Tijuana/México (setembro) e em Salvador/Bahia (novembro). Já em 2017 será a vez de Santiago/Chile (março), Foz do Iguaçu/Paraná (julho) e São Paulo/SP (novembro). "Em cada uma dessas cidades, ao final desse evento, será produzida uma carta com todas as opiniões e reflexões acerca das atividades realizadas. Os documentos vão ajudar a traçar a proposta brasileira e da América Latina a ser discutida no Fórum Mundial, que pela primeira vez será realizado no hemisfério sul", esclareceu o representante do Brasil no CMA, Newton Azevedo. A "Carta de Belém" será assinada no sábado (11), penúltimo dia de programação na capital paraense.

A 8º edição do Fórum Mundial da Água será realizada em março 2018, em Brasília, e terá como tema "Compartilhando a Água". O encontro é promovido a cada três anos e foi realizado pela última vez em abril de 2015, nas cidades de Daegu e Gyeongbuk, na Coreia do Sul.

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